segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Mito da caverna

Estão a ler o que escrevi no sábado, dia de reflexão, e proveito para saudar todos os leitores, mesmo aqueles que lêem os meus artigos com intuito de me criticar, como tem acontecido. Alguns com a respeitável elevação e outros com a sua falta. Sinto-me feliz ao verificar que o que escrevo é lido e, ao constatar as reacções nervosas e incontidas dos meus adversários partidários, fico ainda mais feliz.
Na data da publicação do artigo os resultados das Legislativas são do conhecimento de todos e, naturalmente, não posso dizer o que penso sobre o veredicto do eleitorado.
O povo tem sempre razão! Trata-se de mais um lugar-comum e que fica bem na boca do democrata ou do que lhe veste a pele. Usam este chavão, por dá cá aquela palha, porque é da moda ou lhes é conveniente passar a imagem do politicamente correcto ou, ainda, é usado pelos que sentem respeito pela vontade de um povo.
Com a coragem e o desprendimento de dizer o que penso, digo que muitos usam esse chavão para iludir o povo de que está a fazer o que quer e, por isso, tem sempre razão. Não vou entrar na rica discussão filosófica deste pressuposto, mas, neste dia de reflexão, apetece-me escrever sobre algumas questões que se levantam na alegoria da Caverna de Platão. Vou dizer o que penso sobre a forma como se faz campanha e informação na Região.
As campanhas eleitorais do partido que está no poder, há mais de 30 anos, facto que diz tudo sobre a caverna em que vivemos, raramente são feitas em função das estratégias, dos projectos e do carácter e da competência de todos, repito, de todos os candidatos a altos cargos políticos e públicos, mas em função de uma propaganda que ilude, que mascara a realidade, exibe os sucessos e esconde os fracassos. Muitos, já ambientados neste caldo cultural, sem acesso à luz da verdade, são levados a pensar que é mesmo assim que se deve fazer para ganhar. Mas, a verdade, a transparência e a seriedade dos que se prontificam a servir e a gerir o que é comum são limites que deveriam fazer parte das exigências dos eleitores.
Aliás, é caso para perguntar quantos madeirenses têm conhecimento da verdade das contas públicas, do nível de endividamento e das suas consequências na economia e nas gerações actuais e vindouras. Quantos conhecem os dados sobre o contraste entre o poder de compra e a riqueza produzida, em que a riqueza gerada é das maiores do País, mas o poder de compra dos madeirenses é dos mais pobres de Portugal? Quantos têm a consciência de que este Governo, com 30 anos de estabilidade política e abundância de dinheiro vindo da banca, da UE e do Estado, não preparou a sustentabilidade dos sectores da nossa economia? A campanha esconde tudo isto e mais. Esconde a pobreza, a exclusão, a injusta na distribuição da riqueza e a fraca aposta na valorização do potencial humano. Ora, a verdade das campanhas é apenas a sombra da Verdade que está fora da caverna.
Neste contexto, compreende-se que na ausência de argumentos, de competência e de ética as campanhas sejam marcadas por insultos, ofensas e malcriadez. Por ataques gratuitos e injúrias aos adversários partidários. É a baixa política do costume que envergonha uma democracia adulta. Por outro lado, além das festanças para distrair, fabricam os inimigos externos, quais sombras que condicionam a liberdade de movimentos e de conhecimento.
Estas campanhas só têm êxito eleitoral porque a informação é manipulada e viciada. Procura esconder e incutir a maldosa dicotomia de que o mal está na oposição e o bem no poder. Estas campanhas só têm êxito porque, ainda, não saímos da caverna.

Artigo de opinião, publicado no DN-Madeira, 28.09.09
http://http//www.dnoticias.pt/Default.aspx?file_id=dn04010601280909&id_user=

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