Recuso essa ideia que perpassa por todos os quadrantes da nossa
sociedade, essa ideia fatalista de que não há outros caminhos senão este que
nos estão a impor na Região, no País e na Europa.
A direita, em nome da dita estabilidade financeira, está destruir a
economia e os direitos sociais e laborais. Para a direita, o trabalho tem, apenas,
uma função utilitarista: não interessa a pessoa, não importa o ser humano, o
que interessa é a precariedade social e laboral para limitar a liberdade dos
trabalhadores, tratados como coisas que se vendem e estão à venda, escravos da
oligarquia dos especuladores financeiros.
O luxo, as férias, o ócio e a qualidade de vida são privilégios só para
alguns e não para todos. Neste sentido, a direita ideológica não vive bem com a
ideia da liberdade individual e da igualdade, a afirmação da pessoa faz-se nos
devidos e intransponíveis patamares sociais. E em nome de quê? Em nome da
classe. Ora, o que essa direita deseja é a desforra, a desforra do capitalismo
sem escrúpulos sobre as conquistas do socialismo democrático. E, através destas
políticas ditas “patrióticas”, a contente dos mercados financeiros, estão a desferir
um ataque colossal aos trabalhadores e às espinhosas conquistas laborais e
sociais, fazendo-nos retroceder mais de 30 anos.
A crise do sistema capitalista não se resolve com as políticas
neoliberais de direita, cujas motivações são um ajuste de contas com o socialismo
democrático e com as suas conquistas no domínio do Estado Social. Estas políticas,
que deixam o poder político de cócoras ante o poder financeiro, vêm para
obedecer a uma mão invisível que passa sobre nós e leva o suor do nosso
trabalho e a riqueza da nossa Nação, enfraquecendo a soberania do nosso Estado.
Os sinais dessa vontade já estão plasmados na governação do PSD e CDS
que, ao arrepio do que prometeram, já estão a governar para a liberalização dos
despedimentos e para a destruição do Estado Social, distorcendo o princípio da
igualdade de oportunidades no acesso à saúde, à educação e à segurança social,
retirando de supetão dois meses de vencimentos e aumentando brutalmente a carga
fiscal sobre as famílias. Com esta severidade, estão a tirar aos trabalhadores
e às famílias para dar directamente à especulação financeira, para pagar a
usura dos juros, para agradar aos mercados e para tapar os buracos financeiros
que por aí andam. A mão pode ser invisível, mas sabemos de onde sai e para onde
vai o produto do nosso trabalho.
Artigo de publicado no DN-Madeira, 27.10.11, Jacinto Serrão
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